Durante anos, ouvi pessoas falarem sobre merecimento. Coaches, terapeutas e palestrantes sempre diziam: “Você precisa se sentir merecedor”. Mas, na real, ninguém explicava o que isso significava de verdade. Ficava tudo na superfície, um papo bonito, mas sem efeito prático.
Demorei para compreender isso. Quando consegui, várias coisas começaram a fazer sentido. Uma pergunta me vinha à mente: por que pessoas ruins conseguem acumular riqueza, enquanto pessoas boas vivem no aperto?
A resposta para essa questão está no merecimento, mas não como costumam nos ensinar.
A prosperidade não tem relação com ser uma boa ou má pessoa. Não existe um juiz cósmico distribuindo dinheiro para quem se comporta bem e tirando de quem age mal. Se assim fosse, a realidade seria bem diferente.
A verdade é que existe um sentimento interno que determina o quanto você se permite receber. Esse sentimento não vem da sua ética, mas da sua história, das suas crenças, do que você aprendeu desde pequeno sobre o que merece.
Observando o mundo, vemos várias pessoas narcisistas vivendo no luxo, psicopatas dirigindo empresas, e gente sem escrúpulos nadando em grana. Isso incomoda sim, mas tem uma explicação simples: essas pessoas não sentem culpa ou vergonha. Elas não têm medo de ir atrás do que querem.
Elas se sentem merecedoras. Simples assim.
Não importa se pisaram em alguém no caminho, se enganaram ou manipularam. Elas olham para o dinheiro e o sucesso e pensam: “Isso é meu.” E vão atrás sem pensar duas vezes.
O narcisista não acorda questionando-se se merece uma promoção. Ele simplesmente vai lá e pega. O psicopata não se pergunta se está fazendo algo certo ao fechar um negócio desonesto. Ele fecha e pronto. Não há esse tipo de reflexão.
É importante deixar claro que não estou dizendo que toda pessoa rica é narcisista ou psicopata. Longe disso. Existem muitas pessoas prósperas que são éticas, generosas e conquistam riqueza honestamente. O foco aqui é entender por que algumas pessoas sem caráter acumulam tanto, enquanto outras, com princípios sólidos, lutam para sobreviver.
A diferença essencial aqui está em como cada um lida com o sentimento de merecimento.
E as pessoas boas? Aqueles que realmente se importam com os outros, que são empáticas, e que querem fazer a diferença? Muitas vezes, elas enfrentam dificuldades financeiras.
Por que isso acontece?
Carregar bondade no coração não garante que você se sinta merecedor de prosperidade. Muitas vezes, a pessoa bondosa carrega culpa, vergonha e medo.
Culpa por ter mais quando outros têm menos. Vergonha de querer dinheiro, pois aprendeu que isso é errado ou superficial. Medo de ser julgada, de parecer gananciosa ou de decepcionar alguém.
E existe ainda um ponto mais complicado: a lealdade à família.
Se você veio de uma família humilde, onde seus pais e avós lutaram muito, pode sentir que enriquecer é uma traição para com eles. Isso gera uma dor intensa, uma dor invisível que dificulta qualquer avanço em direção à prosperidade.
Mesmo quando você tenta, inicia projetos e busca oportunidades, quando o dinheiro começa a aumentar, algo dentro de você freia. Você acaba estragando tudo, gastando demais ou tomando decisões erradas, voltando ao início.
Isso acontece porque, no fundo, você não se sente em casa na abundância. A sensação de estar traindo seus antepassados pesa.
Outro ponto que percebi é que pessoas bondosas atraem narcisistas. Isso não é por acaso, não é sorte, é um padrão.
O narcisista percebe na pessoa boa duas coisas: bondade e vulnerabilidade. Ele vê um alguém que dará sem esperar nada em troca, que se sacrificará e colocará as necessidades dele acima das suas.
Além disso, ele vê alguém que não reagirá, que não manterá limites firmes e que sempre perdoará. A pessoa boa teme parecer egoísta ou má e, por isso, acaba aceitando ser subjugada.
O narcisista aproveita-se disso sem pensar duas vezes. Para ele, tudo é um direito que lhe pertence, pois ele se sente merecedor.
Enquanto isso, a pessoa bondosa continua se questionando se pode pedir mais, se pode querer mais, se pode ocupar mais espaço.
A diferença entre prosperar e simplesmente sobreviver está em quão profundamente você se permite ter.
Não se trata de trabalhar mais ou ser mais inteligente ou talentoso. O importante é acreditar que você pode receber sem justificativas, sem sentir culpa ou precisar pagar preços emocionais.
A verdade é que, enquanto você carregar culpa, vergonha e medo, o dinheiro sempre escorregará pelas suas mãos. Você pode até ganhar mais, mas encontrará formas de perder ou gastar com quem não merece. Isso acontece porque, no fundo, você não se sente confortável em ter.
Aprender a deixar essas emoções para trás muda tudo. Muda a maneira como você se relaciona com dinheiro, oportunidades, pessoas e consigo mesmo.
Quando você se desapega da culpa, para de se sabotar. Ao soltar a vergonha, você para de se esconder. E ao deixar o medo, você começa a agir.
Isso vai além da questão financeira. Você começa a ocupar seu espaço no mundo, reconhecendo seu valor sem precisar provar nada. Você pode receber e não se sentir devedor, nem se sentir mal no final do dia.
Prosperidade começa quando você entende que merece estar bem. E isso não está ligado a ser bom, a trabalhar duro ou a ter sofrido. É simplesmente porque você está vivo e tem direito a uma vida plena.
Pessoas com caráter duvidoso já sabem disso, mas usam isso de maneira distorcida, sem se importar com quem machucam no caminho. Para elas, o que importa é o próprio bem-estar.
A diferença é que você pode entender isso e usar para construir algo verdadeiro, com sentido e propósito. Algo que não prejudica ninguém, que não passa por cima de ninguém, mas que também não se limita por medo de brilhar.
Você pode ser generoso e ainda assim prosperar. Pode ajudar os outros sem se anular!
Mas para isso, é preciso se dar permissão. Permissão para querer, para ter e para crescer. Sem culpa, sem vergonha e sem medo. Repita isso diariamente!
Merecimento não significa que você precisa ser perfeito, mas que você pode e deve se sentir digno da vida que deseja levar.
