A importância dos tratamentos paliativos na medicina e como funcionam esses cuidados e sua evolução no Brasil
Com certeza você já deve ter ouvido falar em medicina humanizada, tratamentos humanizados ou tratamentos paliativos. Muito se fala, mas pouco se conhece sobre o assunto. E no Brasil, apenas 14% dos cursos incluem os cuidados paliativos como parte da preparação médica durante a faculdade.
No Brasil, a área caminha a passos lentos e, embora tenhamos unidades que realizam tratamentos sem a possibilidade de cura desde 1986, ainda não temos atividades regularizadas em lei. Além disso, ainda há um grande desconhecimento e preconceito sobre esse assunto por parte dos médicos, profissionais da área da saúde, hospitais e do Poder Judiciário.
Embora tenha se desenvolvido inicialmente entre os pacientes com câncer, os cuidados paliativos não se referem apenas a esse tipo de doença. Eles se estendem a outros pacientes com doenças graves, em que um plano individualizado deve ser estabelecido, com cuidado integral e assistência humanizada, a fim de melhorar a qualidade de vida.
O que são tratamentos paliativos?
Os cuidados paliativos envolvem manter a qualidade de vida do paciente e de sua família nos casos em que não existem mais tratamentos disponíveis e o paciente se encontra em condições de terminalidade.
Existe um estigma e uma compreensão errônea de que os cuidados paliativos significam desistir do paciente. No entanto, eles envolvem mais do que apenas esperar de braços cruzados o enfermo chegar ao fim da vida. A palavra paliativo, que vem do latim pallium, significa manto, proteção. Entre esses cuidados, podemos citar:
- alívio da dor;
- identificação precoce e avaliação correta;
- suporte para que o paciente se mantenha ativo;
- integração entre as esferas psicológica e espiritual;
- não retardar ou apressar a morte;
- considerar a morte como um processo natural.
Evolução e cenário atual dos cuidados paliativos no Brasil
No Brasil, a discussão sobre cuidados paliativos começou nos anos 1970. Mas foi apenas nos anos 1990 que os primeiros serviços organizados começaram a despontar. Quem abriu o caminho foi o Prof. Marco Túlio Figueiredo, que ministrou os primeiros cursos e atendimentos na Escola Paulista de Medicina da UNIFESP. E, em 1998, foi inaugurada a Unidade IV do INCA, dedicada aos cuidados paliativos.
Em 2005, foi fundada a Academia Nacional de Cuidados Paliativos, um grande salto da área em nosso país. Com isso, foram estabelecidos critérios e definições de qualidade, pautadas no conhecimento científico, para o tratamento paliativo. Em 2009, pela primeira vez, o Conselho Federal de Medicina incluiu no seu Código de Ética os cuidados paliativos como princípio fundamental.
Em 2018, foi publicada a Resolução nº 41 pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e Ministério da Saúde. Ela dispõe sobre as diretrizes para cuidados paliativos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Mas esse instrumento não tem força de lei e, por isso, não foi colocado em prática. Para que ocorra uma evolução dessa área, é importante a regulamentação das condutas, para que sejam estabelecidos critérios baseados em princípios científicos e padronização dos atendimentos, a fim de garantir eficácia e segurança.
A previsão é de que haverá um aumento do número de profissionais em cuidados paliativos nos próximos anos, pois a demanda por especialistas tem crescido, além de outros fatores, como o envelhecimento da população, aumento do número de doenças crônicas, popularização do conhecimento sobre cuidados paliativos e curiosidade dos profissionais da área da saúde em saber mais sobre o tema.
Qual a importância dos cuidados paliativos?
Os cuidados paliativos são importantes para ajudar o paciente e seus familiares a lidar com o difícil diagnóstico de uma doença que não possui mais tratamento, com dignidade e qualidade de vida.
Assim, é imprescindível a popularização dos cuidados paliativos e uma maior conscientização dos médicos e profissionais da saúde sobre o tema, a fim de reduzir os estigmas em torno dessa temática e formar mais especialistas para lidar com esses pacientes e seus familiares para fornecer maior conforto nos momentos finais.