Entendendo o TSS: Dissonância em vez de Disfunção
Compreender o Transtorno da Sobrecarga Sensorial (TSS) como uma dissonância, e não como uma disfunção, muda a maneira de ver a sensibilidade intensa. Aqui, essa sensibilidade não é um erro, mas uma forma diferente de enxergar o mundo. A sobrecarga vem da diferença entre os ritmos pessoais e os do ambiente. Assim, se o ambiente é acolhedor, a singularidade deixa de ser um peso e se torna uma potência.
O estudo do TSS exige uma mudança de olhar que vai além dos termos médicos comuns. Em vez de ver o TSS como algo fora do comum, devemos visualizá-lo como algo comum entre pessoas que percebem e reagem ao ambiente de forma diferente da maioria. Essas variações na sensibilidade e cognição não são falhas, mas sim maneiras diferentes de funcionar.
A palavra “dissonância” vem da música e se refere à coexistência de sons que não formam uma harmonia tradicional. No contexto humano, isso significa viver de uma maneira que não segue o padrão da sociedade, mas que não é uma desordem, apenas uma diferença de sintonia.
Ser dissonante é viver em um tom diferente, numa frequência própria que pode causar estranhamento, mas também trazer novas maneiras de ver e sentir. Esse estado de hipersensibilidade faz com que a pessoa receba informações do ambiente com uma intensidade acima da média. Isso não é um erro de percepção; é uma variação natural.
Muitas vezes, essa intensidade leva à sobrecarga porque o ambiente não oferece espaço ou tempo suficiente para que a pessoa processe tantos estímulos ao mesmo tempo. O corpo tenta se adaptar, mas acaba reagindo com tensão, cansaço ou até se retraindo. Isso é muitas vezes visto erroneamente como uma fraqueza.
No entanto, ao ver o TSS como uma dissonância, percebemos que essas pessoas têm uma forma de funcionar muito rica. A aparente vulnerabilidade é, na verdade, uma grande capacidade de captar e elaborar informações. O desconforto gerado pelo TSS não é resultado de uma falha estrutural, mas da falta de sintonia entre a frequência interna da pessoa e o ritmo do mundo externo.
O Que é a Dissonância?
A dissonância, na música, é a presença de sons que não se encaixam tão bem. Porém, essa tensão pode ser parte fundamental da expressão musical. Quando aplicamos isso às experiências humanas, ela se torna uma ferramenta útil para entender diferentes modos de viver.
Pessoas dissonantes podem se sentir fora de sintonia em grupos homogêneos, mas isso não é um sinal de anormalidade. É uma configuração natural que traz um potencial único de percepção. Na parte psicológica, a dissonância se reflete como uma hipersensibilidade, que faz com que os indivíduos perceberem o mundo de maneira mais vívida e intensa.
Isso se traduz em uma experiência saturada, onde sons, luzes, cheiros e até expressões são percebidos com uma clareza que pode ser esmagadora. O que é apenas ruído para muitos pode ser uma explosão de detalhes significativos para quem vive essa intensidade. Essa hipersensibilidade não é um problema, mas sim uma forma de captar o ambiente em sua plenitude.
Entretanto, a sociedade não costuma oferecer o suporte necessário para lidar com essa intensidade. Em vez de um convite ao diálogo, muitas vezes acaba gerando desconforto físico e emocional. Quando não há espaço ou tempo para processar tudo isso de maneira adequada, o cansaço e a tensão podem surgir e serem vistos como fraquezas.
A Experiência da Sobrecarga
As pessoas com TSS vivem em um estado de alerta constante. Sons, luzes e até a energia emocional das pessoas ao redor são captados de forma superdetalhada. O cérebro se vê sobrecarregado ao tentar processar tantas informações ao mesmo tempo. Para a maioria das pessoas, pequenos detalhes passam despercebidos, mas para quem tem hipersensibilidade, cada um deles conta como uma informação importante.
Esse ambiente saturado pode gerar um grande excesso de dados. O cérebro tenta lidar com tudo isso, mas nem sempre consegue dar uma resposta rápida ou adequada a cada estímulo. O resultado é um cansaço generalizado, uma sensação de estar desconectado do contexto, não por incapacidade, mas por sobrecarga de percepção.
Esse excesso de informações muitas vezes é mal interpretado por quem está ao redor. O que parece ser retraimento, irritabilidade ou descontrole, na verdade, é uma tentativa de autoproteção. O corpo busca diminuir o impacto do ambiente, podendo levar a um recuo momentâneo em conversas ou interações. Essa é uma forma natural de regular a própria percepção e a sensibilidade.
Quando o mundo ao redor se ajusta aos ritmos internos, a pessoa não precisa se silenciar. Ao contrário, ela pode colaborar com sua própria sonoridade, que é uma adição à nossa diversidade humana. Todo esse ajuste pode ser difícil, mas essencial para quem vive com TSS.
Questões sobre o TSS
O desafio principal não é “consertar” essa sensibilidade, mas criar ambientes que acolham essa diferença. Isso inclui espaços com menos ruído, rotinas previsíveis e pausa para reflexão. É fundamental estabelecer laços baseados em empatia e compreensão, para que essas pessoas não fiquem em constante estado de exaustão.
Existem maneiras de se adaptar a essa condição, seja através de técnicas de relaxamento, meditação ou mesmo a construção de um ambiente social mais amigável. Quando o volume do mundo é ajustado, e há mais respeito às diferenças individuais, as pessoas dissonantes podem brilhar.
No final, a dissonância é um componente essencial da nossa sociedade. Conhecer e respeitar as diferenças ajuda a construir uma convivência mais harmônica e rica. Todos temos algo a contribuir para a grande sinfonia da vida.
